Oito meses. Tão pequena. Tão frágil. Já de mochila e agenda.
Longe dos olhos. Com estranhos que somos obrigados a confiar. Quem irá te nanar
com canções malucas? Você será abraçada quando estiver mais quieta?
Culpa. Dor. Lágrima. Dúvidas e mais dúvidas. Um aperto no
coração. Vontade de largar tudo e te manter dentro de uma redoma. Só eu te
entendo. Só eu sei o que você precisa. Só eu sei te dar proteção.
Novidade. Você chega e nem olha para trás. Diverte-se com os
novos amigos. Distribui sorrisos logo nos primeiros dias. Tudo chama atenção.
Tudo é alegria.
Rotina. Quando começa para valer, você não acha tanta graça.
E eu, que já sentia o coração menos pesado, me vejo agoniada quando suas mãos
se cravam na minha blusa e não desejam soltar.
A menor das picuinhas no trabalho já traz um mar de
incertezas a tona. Será que realmente estou fazendo o melhor? Vale a pena
trocar várias das tuas primeiras vezes por isso?
Inúmeros fatores são recordados: os anos de estudo, o
financiamento a ser pago, o teu futuro.
Mas tem dias que a saudade aperta. E como a letra de uma
música diz, eu literalmente conto os segundos para poder te ver. E sim, o
relógio não é o melhor amigo das mães que trabalham.
E o sentimento piora ao ler artigos que apontam os seus
dedos acusadores, me fazendo sentir um ser sem escrúpulo ou amor ao abandonar o
meu bem mais precioso na mão de estranhos.
Não é raro me pegar a pensar na possibilidade ilusória de
ganhar na loteria. Ai sim iria passar todas as horas da tua primeira infância
agarrada contigo inventando atividades e viagens. Mesmo sabendo que em alguns
anos você irá querer desbravar o mundo sem mim.
Só que ficar em casa hoje é ficar entre quatro paredes de um
apartamento. E você merece a chance de se desenvolver muito mais. O mundo
espera isso de você. Além de amor, carinho, proteção e afeto, você precisa de
inglês, informática e exercícios físicos.
Enfim, enquanto a mega não vem, vamos administrando a
saudade e aproveitando nossas poucas horas. A culpa sempre vai existir, e agora
entendo toda a verdade de que a adaptação serve para a mãe e não para os
filhos.
** Imagem Espaço Inteligente
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